Tudo
tem um tempo certo. Eu chamo isso de maturação.
Hoje
acredito que a vida seja só um minuto de algo que nos acostumamos a nominar por
“passagem do um tempo”. Estamos e somos infinitamente.
Sempre
recebi sinais de que não somos apenas “isso” e pouco sabia interpretar e creio
que ainda não o saiba direito. Aliás, creio que todos recebam, mas, muitas
vezes a prioridade pessoal seja outra e então, esses ecos se perdem esquecidos em
nós.
Fui
criança que teve chance de passar boa parte da infância na “roça”, na caatinga,
na beira do rio, no pasto. Acolhi bichos de pé e até berne. Sei o que é ser
picada por abelha, mosquitos e a ter cuidado com rastro de cobra. Aprendi a
conhecer as estações e conhecer o que cada uma traz; a saber olhando o sol se
teremos chuva, a conhecer o cheiro do vento. Como toda criança, fui perversa,
cacei passarinhos, pelo simples prazer de testar a minha boa pontaria e a jogar
sal nas costas do sapo só pelo prazer de vê-los pular bem alto. Tomei água de
cacimba, banho na beira do rio, leite tirado da hora e comida cozida no fogão
de lenha. Minhas enfermidades de criança, não muitas, foram afastadas muitas
vezes por benzedeiras, banhos de ervas e chás. Aprendi a ter respeito por algo
que não compreendia, mas que sabia ser divino, em casa, no quartinho dos santos
– católicos. Minha cultura material social e religiosa foi sempre vasta e
interdisciplinar. Aprendi a rezar o terço e a ter fé no poder da natureza. Creio,
que não pouco diferente das pessoas que tem origem do interior.
Hoje
não saberia dizer se todo esse contado com a cultura popular em conjunto com
cultura massificada da cidade, tenham me confundido e ao mesmo tempo, me feito
ser tão curiosa e aberta a novos conhecimentos. Meus questionamentos vieram
precocemente e em muitas portas entrei, olhei, esmiucei, discordei e aprendi.
Depois
de muito vagar, comecei a compreender que algumas pessoas conseguem se conectar
com um “algo além” do palpável, coisas que se fundem entre o inimaginável e o sensível
num piscar de olhos. Por essas minhas percepções, pude ser testemunha de que
existe um “algo” mais para além do que podemos ver.
Para
uma criança não é fácil entender que a sua visão seja expandida, que o universo
possa lhe murmurar ao pé do ouvido de forma tão íntima. Para um adulto também
não! Algumas experiências são sofríveis, outras indescritíveis. Mas, tudo isso
só lhe reforça que voce precisa ir mais além.
Desfiaria
aqui um rol de experiências que beiram as raias da loucura, e que muitas vezes
tive até medo de compartilhar, temendo ser caracterizado como acessos de
loucura. Mas, os que me rodeavam, passaram a ter respeito por aquilo que não compreendiam,
mas que, de certa forma não deixava de ser a minha realidade.
E
por que lhes conto isso? Bem, tem dias que acordo assim, tenho “algo a fazer” e
enquanto não cumpro, não sossego. Também não saberia lhes responder, mas de
alguma forma, compartilhar com outras pessoas experiências de vida e poder
perceber que não estamos sozinhos nessa caminhada, talvez seja uma forma de
torna-la mais “leve” e proveitosa. Seria como sentar na beira da estrada numa
sombra para apreciar a paisagem e então se sentir parte disso tudo.
É
fato que nascemos e morreremos sozinhos e que o caminho de cada um é individualmente
solitário em si, mas também entendo que essa necessidade em sermos seres
sociais, seja uma forma de nos mantermos girando sob a egrégora de energias que
se afinam e se compreendem parte de tudo como um todo.
Hoje
inicio como peregrina em mim - um diário, um papo comigo, recordações,
descobertas. Estou aqui, para quem gostar de ler e me conhecer melhor, se
identificar, achar bobagem.
Haverá
continuação...