Olhar de uma Peregrina

“Aonde fica a saída?", Perguntou Alice ao gato que ria. ”Depende”, respondeu o gato.

”De quê?”, replicou Alice; ”Depende de para onde você quer ir...”

[Lewis Carroll]

...Sempre haverá uma fronteira a ser transposta...sigo descalça, colhendo com os olhos o que cabe nas mãos e saboreando com a alma o que consigo transmutar...meu maior desafio será não deixar pegadas e levar, apenas, o necessário...


[Venha...Vá...]

[Venha...Vá...]
...Venha...Vá...Leve daqui tudo com que se identifica...Embora nada inteiramente nos pertença...Leve tudo que considera Seu...Nosso... Guarde apenas uma advertencia: Não iluda-se que ao levar-me...poderá por algum momento ser Eu...pois isso...nem Eu mesma...muitas vezes...sei se-lo...

terça-feira, 17 de julho de 2012

[A árvore da vida e a senda espiritual da guerreira]



Toda grande mudança que produzimos durante nossa mítica jornada ao longo das várias e várias existências supõe a percepção, no mundo material, da continuidade nos processos espirais de vida e morte, pois o renascimento somente é possível, em níveis mais profundos do espírito, quando nos despojamos do que está obsoleto em nossa trajetória e, renovadas, lançamo-nos para novos percursos.


http://www.templodeavalon.com/uploads/img5005772903162.jpg

A árvore da vida celta ilustra bem esse ciclo perpétuo, pois agrega, de baixo para cima - ou, de cima para baixo, dependendo de como nos predispomos a ver o mundo - todas as etapas valiosas desse grande movimento universal que coexiste ao lado de nossa senda individual.

Ela marca muito mais do que o inconsciente coletivo sagrado, pois ainda que seja um símbolo universal para as etapas que todos os seres vivos hão de cumprir- vida-morte-vida, inexorável condição a qual tudo se sujeita - a árvore da vida nos ensina "para além" da espera do decurso de nossas existências, mostrando-nos a beleza, a poesia, a dignidade e, sobretudo, a dignidade de cada caminho...

Ela nos mostra o que se torna necessário cultivar na Terra para que as raízes se finquem fortes e possam sustentar o longo eixo - corpo - que irá crescer até atingir a morada divinal. Mas também nos mostra, nas folhas caídas ao solo, que todo esse fluxo demanda aparentes perdas, já que as folhas quedadas irão compor o substrato fecundo de alimento para a nossa árvore individual.

Os celtas têm no eterno ciclo de vida-morte-vida a essência de seus sistema de crenças, retratando essa concepção de mundo, mente, matéria e espírito, em um diálogo com a poesia e a arte, por meio das gravuras muito adornadas com nós e traçados.

Essa sinuosidade bem nos lembra as curvas de uma espiral, bem como a singeleza dos processos de mudanças, que, muitas vezes imperceptíveis, vêm à tona para a consciência apenas quando o adorno da espiral já "fez a sua dobra". Ao mesmo tempo em que processos são longos caminhos que podem se mostrar sutis, a tangência de suas curvas, tal qual o triskle, quando se dobra sobre si mesmo, revela a infinitude de um devenir que, ao pender para si, finda sua existência, mas revolve o início de tudo, no caldeirão mágico de uma nova vida...

Como o adorno da folha, a espiral volta-se para o acolhedor útero, pois a dobra reforça que somos, ao final, aprendizes de lições que só podem ser experienciadas a partir da constância na roda do autoconhecimento, onde não existe, grosso modo, exaurimento e o retorno à casa materna é certo...

http://www.templodeavalon.com/uploads/img50057779a159b.jpgTal qual o prenúncio do triskle nas dobras mágicas, a árvore celta da vida (e por que não dizer também da morte?) expande-se, desde o solo, para atingir o devenir sagrado do desconhecido "para além das fronteiras" do material, buscando compreender, nas sídhes milenares, os honrados caminhos dos guerreiros e das guerreiras deídicas, personagens centrais de todas as sagas celtas, que usualmente envolvem uma senda espiritual advinda de uma tarefa mágica, a ser executada em três, sete ou nove etapas, marcada por muito sangue, dor e, ao final, a superação de si para que nossa heroína ou nosso herói, sejam sagrados pessoas dignas de adentrar os mistérios acessíveis apenas a quem conseguiu superar a si mesmo(a).

Nas raízes de nossa árvore encontra-se o não nascido, o exsurgente em potência de si, o ser que está germinado, latente, mas que ainda irá volver forças, alimentando-se do silêncio da Terra e do sangue vital da Água (elementos femininos que acolhem e nutrem, assim como o útero, o líquido amniótico e o sangue do cordão umbilical), para que possa romper, ao final, as entranhas sagradas do alento que lhe deu acolhida nos dias em que esteve na solidão do escuro.

Tudo é calmo, silencioso e acalentador no berço sagrado, que nos protege das vicissitudes de mundo completamente desconhecido da superfície. A vontade, claro, é de permanecer acolhido(a) no suave colo da maternal Terra, pois o devenir traz a incerteza do percurso.

O gérmen, porém, acalentado ad eternum nos braços de Dana, não vinga, pois toda semente que passa de seu momento não cumpre suas consecutivas etapas de romper a terra e se lançar. Terá cumprido sua sina? Terá desenvolvido seu destino?

E não sabemos, ao certo, mas, se a semente não brota - o que também é perfeitamente comum - em outra sorte, e em outra forma, ela cumprirá um destino honrado, já que servirá de alimento para o cultivo do substrato orgânico que irá alimentar todo o grande jardim da nossa maravilhosa árvore da vida.

De uma maneira ou de outra, germinando ou não germinando, a semente terá cumprido seu papel, com a diferença, claro, na escolha que move seu caminho, uma vez que tal gotícula de ser pode - por força da necessidade de sobreviver - clamar para si a força para confrontar as barreiras que se lhe formam ao longo do caminho rumo à eclosão de vida fora do útero. Ser a árvore e ser substrato, pois, na árvore da vida, é meramente uma questão de perspectiva do que se pode escolher e viver, com resultados diferenciados, mas que, ao final, voltam sempre à ideia de eterno ciclo, já que podemos, diuturnamente, ser sementes ou frondosos carvalhos...

Do entrelaçado de vários caules advém a confluência de nossos vários caminhos nessa linda árvore celta da vida. Todos os trilhares estão conectados, interligados e interdependentes, pois a copa só se sustenta quando o caule é bem forte e firme. No caso da árvore celta, a copa é alicerçada por toda essa harmoniosa miscigenação de caules. Não se trata de fusão, pois cada qual desponta em seu caminho. Ao final, contudo, na força do trançado, ergue-se a firme corda, cuja tração é o bastante para que a árvore suba, enfim, à magnitude de seu destino.

A copa é o divisor de mundos em nosso caminho de celticidade, pois, ao mesmo tempo em que encobre o céu, o sol e a lua - signos sagrados do desconhecido invisível para a semente que está nas entranhas e o caule que está abaixo das folhas, conecta o organismo ao Todo, compartilhando, assim, os sagrados segredos que aparentemente se escondem por trás das folhas.

Afinal, as folhas quedadas ao solo, um dia, viram a abóboda e penetraram, ali, na morada sacral dos deuses e das deusas, trazendo, assim, um pedacinho de cada um deles consigo, na mais completa transposição da noção de apartação para a percepção de que, de fato, somos UNOS! Na dimensão mítica celta inexiste religare, porquanto a vivência no caminho diário de uma austeridade conectada aos desígnios sagrados aponta para a superação da polaridade, bem como para o encontro da unidade consagrada nos andarilhos que se lançam na observação de si.

Nesses dias de intensa experienciação do sagrado contido em mim, conecto-me ao ciclo da árvore da vida, celebrando o advento das pequenas mortes em minha vida como renascimentos providenciais de novos arroubos de crescimento.

Eis-me, talvez, por horas, minutos, segundos - não importa, pois o tempo é memória emocional vívida dentro do coração - no cumprimento eterno do caminho da semente, alimentando-me do que a Terra gentilmente oferta, de bom grado, e tentando crescer, em cada um dos impactos - ou talhos - que, no caminho, se apresentam para meu caule.

Cada vergalhão leva a cicatriz que, ao final, apenas mostra que da morte exsurge a vida, assim como o é na nobreza que brota da árvore celta da vida. Vivenciamos, pois, dias de morte, dias de luto e dias de renascimento e, com isso, despontamos, em cada momento, em passos - que ora damos larga, ora timidamente - em direção à glória de apenas viver...Já é o bastante para que o coração se acalme e encha de plenitude e, com isso, nosso destino se perfaça, na sutileza de uma semente que, apesar de pequena e frágil, ergue-se, pouco a pouco, rumo à grandiosidade do Infinito!

Hey ho!

Por Audrey Donelle Errin
Pesquisadora do Sagrado Feminino, dentro do foco celtíbero.

Sagrados Segredos da Terra: 
http://www.sagradossegredosdaterra.com.br

E-mail:
adlvmiranda@yahoo.com.br 
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

[Imagens...Desenhos que falam]

Informo que algumas das imagens utilizadas aqui, não são da minha autoria, tendo sido em sua maioria, provenientes do google imagens. Ficando assim, à disposição dos seus respectivos autores, solicitarem a retirada a qualquer momento. Agradeço.